terça-feira, 18 de dezembro de 2012

TITE: será ele um gestor?

No caderno de esportes da Folha de São Paulo de ontem (17/12), dia seguinte à conquista do bicampeonato mundial pelo Corinthians, há uma foto com jogadores, dirigentes e funcionários da delegação no Japão. Procurei o técnico Tite e não achei! Surpreso, fiz uma busca mais atenta e finalmente reconheci uma pequena parte do rosto e dos cabelos brancos do técnico, lá na última fileira da foto, atrás dos demais integrantes.

Não pude evitar algumas perguntas: por que o Tite colocou-se naquela posição? Como técnico da equipe vencedora, não deveria ocupar um lugar de maior destaque? Quem ocupou as posições mais visíveis da foto?

Começando pela última pergunta: os jogadores estão no primeiro plano. Os dirigentes e funcionários preenchem os espaços ao lado e atrás dos atletas. Uma ordem correspondente à missão de cada um na conquista: quem esteve no campo durante todas as partidas (não só as duas últimas no Japão...) merece mesmo essa relevância – foram muitas horas de tensão, jogos difíceis, treinamentos exaustivos, dores musculares e contusões, viagens cansativas, ausências prolongadas de suas famílias e amigos, concentrações intermináveis... Entretanto, o que os jogadores poderiam alcançar sem as diretrizes, orientações e decisões do técnico?

Definir uma meta precisa e objetiva foi, a meu ver, a primeira façanha do Tite. Mas isso não seria suficiente. Foi necessário acrescentar uma segunda proeza de gestão: elaborar e seguir cuidadosamente um plano de metas intermediárias, acompanhando atentamente a evolução do grupo e de cada atleta em particular. Liderar, organizar e integrar o grupo foi crucial.

Ainda assim, a conquista do título de campeão poderia não ser alcançada, se um terceiro e importante fato deixasse de ocorrer: durante cada jogo, o técnico teve que tomar decisões, promover mudanças táticas, substituir jogadores... Isso tudo no calor das disputas, no exato momento dos acontecimentos, sob a intensa gritaria (e vigilância...) do “bando de loucos” da torcida.

(Por exemplo: nesse jogo final contra o Chelsea, os comentaristas esportivos explicam: “Tite desatou o nó armado contra ele logo no começo do jogo... Tite, já aos 10 min, conseguiu reorientar seus jogadores...”)

Em síntese: Tite é mesmo um gestor. E dos bons, pois conseguiu aliar as principais qualidades de um gestor competente: ter metas precisas, conceber/cumprir planos estratégicos, monitorar/avaliar continuamente a execução dos planos e liderar/motivar o grupo como um todo e cada participante em particular. Tudo isso sem querer ocupar sozinho as posições de destaque nas fotos e em outras circunstâncias da vida.

Comentário adicional: neste caso, é preciso mencionar duas variáveis que estavam fora de controle do técnico. Primeira: o peso e a força da torcida. Segunda: a decisão do presidente do clube de manter o Tite no cargo quando o time foi desclassificado na taça "Libertadores" por uma inexpressiva equipe. Essa menção vem a propósito de lembrar: o sucesso também depende de algumas variáveis que o gestor não controla.

E agora, comentário final: quando terminei de escrever o texto, me perguntei: eu teria essas ideias se o time fosse VICE-campeão? Refleti e conclui: provavelmente, escreveria tudo isso do mesmo jeito. Porque vice também é um título, segundo lugar também é uma conquista...

Ou será que essa conclusão não passaria de desculpa de perdedor?

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