segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Câmeras nas escolas resolvem? Ilusão...

Os pais já têm inúmeras razões para inquietar-se diante da situação de muitas escolas, públicas ou particulares. E ainda precisam enfrentar notícias de maus tratos que uma diretora aplicava a crianças de um ano! Verdadeiramente trágico.

Bem agiu a secretaria de educação: imediatamente cancelou o funcionamento da escola, sem desnecessários procedimentos legais perante tais monstruosidades.

A televisão mostrou, em seguida, o depoimento de outra diretora: colocou câmeras em todas as dependências, disponíveis para acesso via internet a qualquer hora. Passou subliminarmente a ideia de que comportamentos condenáveis são impossibilitados devido a essa vigilância.

Fui diretor e coordenador de escolas durante quarenta anos. Minha experiência permite afirmar: a instalação de câmeras transmite uma falsa tranqüilidade. Não nego que podem aliviar as preocupações e, eventualmente, denunciar agressões, violências, abusos. No entanto, não resolvem o problema. No máximo, amenizam. E criam outros.

O fato me lembrou uma passagem do livro 1984 de George Orwell. Winston, o herói do romance, vive preso à vigilância do Grande Irmão, o líder do partido único que domina toda a sociedade. Todos os habitantes são também controlados. Insatisfeito, Winston escreve um diário – atitude passível de pena de morte – em um canto “cego” de seu apartamento, local que descobriu não ser controlado por nenhuma câmera.

A lembrança reforçou minha convicção: é a permanente participação das famílias na organização escolar que efetivamente pode oferecer alto grau de tranqüilidade quanto à segurança e quanto aos muitos outros aspectos da estrutura e funcionamento das escolas (projeto pedagógico, uso de materiais didáticos e de recursos informatizados, procedimentos de avaliação, para citar apenas alguns).

Sabemos que é impossível uma tranqüilidade absoluta. Mas a participação dos pais na vida da instituição escolar permite conhecer pessoas e projetos e acompanhar o desenvolvimento das atividades educacionais. E verificar rapidamente a existência de falhas.

Porém, há duas condições necessárias, segundo penso:
a) A participação constante dos pais, pactuada com a direção e os professores da escola. Um acordo acertado entre os adultos que têm a RESPONSABILIDADE CONJUNTA de provocar, estimular e acompanhar o desenvolvimento escolar de cada criança e jovem. Sozinhos e separados, escola e pais podem alcançar muito menos sucesso nessa importante missão.

b) Uma participação coletiva dos pais de forma a evitar que posições e interesses individualistas prejudiquem o movimento de relação escola-pais. As questões mais amplas e gerais precisam predominar, o que poderia ser dificultado se prevalecessem as demandas exclusivas desta ou daquela pessoa ou grupo.

Sei perfeitamente que essa participação é bastante dificultada pela vida corrida que pais e mães são obrigados a enfrentar para prover o sustento de suas famílias. E, portanto, o quanto é complicado conseguir tempo e disposição para tomar parte das atividades escolares. Contudo, um esforço nesse sentido é irrecusável por uma razão muito evidente: eles, nossos filhos e alunos, merecem.

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