quinta-feira, 29 de março de 2012

E a recuperação paralela? Vai ou fica?

Estamos acompanhando o noticiário dos últimos dias sobre a proposta da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo: extinguir as aulas de recuperação paralela, oferecidas no período contrário para os alunos com dificuldades de aprendizagem, uma prática vigente desde 1997.
Foi anunciado que haveria um segundo professor para ajudar os alunos durante as aulas no período normal. Mas não para todas as turmas e sim para as que tivessem maior número: 25 ou mais no ensino fundamental I; 30 ou mais no ensino fundamental II; 40 ou mais no ensino médio.

O noticiário revelou que o governador do Estado negou a extinção das aulas de recuperação paralela no contraturno e prometeu explicações mais detalhadas. Elas foram publicadas hoje – dia 29/03/2012. Agora parece que a decisão de promover essas aulas será tomada pelas escolas que “terão de comprovar que possuem salas de aula e professores disponíveis” (Folha de São Paulo, caderno Cotidiano).

Se a ideia original era mesmo a de extinção desse apoio ao aluno com dificuldades, é estarrecedor. Na contramão de tudo o que tem sido veiculado, pesquisado, analisado e proposto, a Secretaria da Educação estaria promovendo um calamitoso retrocesso. Fiquei com muitas indagações quando li a matéria, mas uma foi muito mais forte: um professor que tivesse 39 alunos numa classe de ensino médio, como faria a recuperação paralela durante suas aulas normais?
E não vale responder que isso seria uma situação pouco provável...

Felizmente, há indicações de que a extinção não ocorrerá. Ainda assim, fica uma preocupação: qual será a ação dos órgãos de gestão central e regional do sistema educacional do mais desenvolvido estado brasileiro, se uma escola reconhecer que não tem lugar e/ou professores qualificados para oferecer as aulas de recuperação paralela?

Concordo que a decisão de oferecer essas aulas é mesmo dos educadores de cada escola, em parceria com seus alunos e famílias. É no âmbito da unidade escolar que essa medida tem melhores condições de ser assumida. E a parceria é o melhor antídoto contra a ausência dos alunos nessas aulas.
Mas, os órgãos centrais e regionais precisarão apoiar as escolas com carências (geralmente freqüentadas por alunos também carentes), contratando professores e disponibilizando recursos didáticos e espaços físicos. Vamos acompanhar as próximas notícias (se vierem...)!

sábado, 10 de março de 2012

PROFESSORES REVOLTADOS. E COM RAZÃO!

Recentemente, o portal Terra Educação publicou uma nota sobre a divulgação de resultados de avaliação de desempenho de professores pela prefeitura de Nova York. Envolvendo 18 mil professores, cujos nomes e sobrenomes foram expostos pela publicação na imprensa, a decisão causou forte polêmica entre o prefeito e o sindicato de professores.
Argumentos de um lado e de outro mencionam “sistema pouco confiável”, “danos para as escolas”, “transparência na administração pública”, dentre outros. A reportagem informa: “O desempenho dos professores é qualificado de 0 (baixo) a 99 (alto), de acordo com os resultados obtidos pelos estudantes. O ranking vai de 2007 a 2010”.

Eu não conheço em profundidade o sistema de avaliação mencionado na notícia e, portanto, não é possível uma análise ampla e completa. Entretanto, um aspecto me chamou mais a atenção e sobre ele penso que me é permitido fazer uma reflexão: os resultados obtidos pelos alunos seriam a fonte para análise de desempenho dos professores.

Se efetivamente essa é a realidade, estamos diante de mais uma prática de gestão reducionista, simplista e inconseqüente. Por que essa afirmação tão contundente? São vários os motivos. O mais relevante, em minha concepção, é que não se pode considerar que o desempenho profissional dos educadores seja medido exclusivamente pelos resultados de seus alunos. Pela simples e óbvia razão de que inúmeros outros fatores têm peso e importância nesses resultados. Vamos lembrar alguns? A trajetória escolar do aluno; a cultura da família e seu nível sócio-econômico; o estado físico e/ou emocional e/ou cognitivo do aluno no momento de medida de suas aprendizagens; o nível de qualidade dos instrumentos de avaliação... Enfim, esses são alguns poucos exemplos. Em síntese: não nego que o fator “resultados dos alunos” deva ser considerado na análise de desempenho dos professores... Mas, como único critério? É simplificar demais algo tão complexo. Isso, claro, se essa tenha sido a fonte para compor o sistema usado em Nova York.

Aqui no Brasil, por exemplo, as avaliações institucionais promovidas pelo MEC e pelo Conselho Nacional de Educação junto às universidades englobam diversos fatores para definir o nível de cada instituição. Os resultados obtidos pelos alunos no ENADE são incluídos nas análises, mas não unicamente ou isoladamente. Assim também têm procedido os Conselhos Estaduais e Municipais de Educação que conheço, quando se trata de analisar o desempenho de escolas de educação básica.

Há um último agravante na publicação de Nova York. Lá, como cá, está cada vez mais usado o ranqueamento de instituições e de pessoas. No caso em foco, 18 mil educadores foram distribuídos em um ranking “com nome e sobrenome”, segundo a notícia. Lamentável! Essa autêntica “febre” de classificação de elementos totalmente díspares, existentes em contexto completamente diferentes, desconhece a mais simples regra para uma avaliação competente: não comparar situações, pessoas e organizações como se todas fossem iguais.

Ou, para usar o dito popular: “não se pode colocar tudo num mesmo saco”. Todos nós, educadores, sabemos como as condições de trabalho e a cultura institucional de uma escola (para falar de somente dois importantes aspectos) são diferentes de outra, ainda que existam elementos comuns. Mas, certamente, insuficientes para avaliar o desempenho docente como se todas as escolas fossem iguais.
Parece que alguns dirigentes educacionais é que precisam aprender essa importante lição de gestão... E (por que não?) de vida.