sábado, 22 de setembro de 2012

Ensino Médio: currículo único?

O Brasil deve adotar um currículo nacional único para a educação básica?
Foi essa a pergunta feita pela Folha de São Paulo para duas profissionais: Priscila Cruz (diretora do movimento TODOS PELA EDUCAÇÃO) respondeu que sim e Dalila Andrade Oliveira (professora da Universidade Federal de Minas Gerais) optou pelo não. Ambas expuseram suas justificativas na página “Tendências/Debates” do dia 15/09 passado.

Minha posição é totalmente contrária a um currículo único para a educação básica. Portanto, completamente favorável ao posicionamento da segunda autora. Começando pelo título do seu artigo: “Reduzir a liberdade é proposta elitista”. Na história da educação brasileira, soluções centralizadas e únicas quase sempre significaram exclusão ou expulsão de muitos brasileiros do sistema educacional. Por uma razão muito óbvia: somos um país multicultural, com diversidades regionais marcantes nas artes, na linguagem, na economia, na política, nas vestimentas, nas festas e em qualquer outro aspecto da realidade social. Como bem esclarece a professora Dalila em seu artigo.

E nem se pode alegar, como o faz Priscila Cruz, que um “currículo nacional permite a execução eficiente, transparente e justa das políticas públicas na área de educação”. Pelo contrário, penso que a eficiência, a transparência e a justiça ficarão fortemente comprometidas se houver a determinação de um currículo único para a educação básica.

No entanto, o que desejo enfatizar é a ausência, nos dois artigos, de qualquer menção às diretrizes curriculares nacionais referentes à educação básica como um todo e a cada segmento, em particular – educação infantil, ensino fundamental de 9 anos, ensino médio, ensino de jovens e adultos, educação especial e educação profissional.

O Conselho Nacional de Educação já havia publicado resoluções nos anos seguintes à aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - 1996). Nos últimos dois anos, todos esses importantes documentos foram revisados e atualizados pelo conselho.

As diretrizes curriculares nacionais indicam uma base nacional comum para preservar a identidade da nação e abrem espaço para atender as diversidades em cada estado, município e escola, cumprindo fielmente o estabelecido na LDB.

Portanto, creio que os mecanismos básicos da estrutura curricular já estão indicados. Agora, é preciso colocar em funcionamento. O movimento de tornar efetivas essas diretrizes é uma responsabilidade de todos os educadores. Os professores, os gestores e os funcionários, no exercício de suas atribuições nos órgãos oficiais ou nas unidades escolares, têm a incumbência de estudar os documentos do Conselho e contribuir para a criação e implantação do currículo mais adequado à respectiva comunidade social.

Respeitados os princípios e normas que preservam a base nacional comum, cada escola pública ou particular poderá organizar uma estrutura curricular ajustada às necessidades e expectativas da sua comunidade. Poderemos, dessa forma, resguardar nossa identidade nacional e, ao mesmo tempo, respeitar as características locais.

É, sem dúvida, um movimento difícil e demorado, concordo. Mas, necessário. Porque, acima de tudo, é um movimento comprometido com a inclusão escolar de todas as crianças e jovens brasileiros.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Ensino médio: sai SAEB e entra ENEM?

A divulgação dos resultados do IDEB 2011 (Índice de desenvolvimento da educação básica) em meados do mês passado trouxe muitas discussões. Entre tantas, quero ressaltar uma: a substituição da prova do SAEB (Sistema de avaliação da educação básica) pelo ENEM (Exame nacional de ensino médio) para compor o índice do ensino médio.

Minha posição sobre essa proposta: um claro e forte NÃO. A substituição seria um desastre. E pior: desastre desnecessário! Por quê? Tenho pelo menos duas razões.

A primeira – a aplicação da prova do SAEB para os alunos do terceiro ano do ensino médio já possibilitou a formação de uma importante série histórica de dados. Bem aproveitados, poderiam ser fonte preciosa de reflexões, discussões e decisões relativamente à melhoria da qualidade do ensino brasileiro. Isso é especialmente relevante em nosso país, pois quatro milhões de crianças iniciam a educação básica mas 1,8 milhão não concluem o ensino médio. É um número assustador de brasileiros privados do mínimo educacional.

A segunda razão – o ENEM acabou sendo transformado em um autêntico monstrengo pelas diferentes políticas implementadas pelo MEC. Inicialmente foi criado como mecanismo de avaliação de resultados desse nível de ensino; posteriormente, o MEC atribuiu-lhe a função de exame seletivo para ingresso no ensino superior e de distribuição de bolsas de estudos. Ou seja, acabou por não atender com eficiência nenhum desses propósitos, em minha visão. E, ao publicar o nefasto ranking das escolas, foi-lhe ainda acrescentado o peso de avaliador das instituições de ensino. Acrescente-se a tudo isso: quem decide fazer o ENEM é o aluno e, em decorrência, não é um levantamento amostral nem, obviamente, censitário.

É verdade que a prova do SAEB, aplicada no último ano do ensino médio, é amostral. É também verdade que essa prova versa sobre língua portuguesa e matemática, desconsiderando as demais áreas de conhecimento. São obstáculos importantes para uma avaliação mais completa dos resultados dessa última etapa da educação básica. Mas não me parecem intransponíveis.

O caráter amostral pode ser substituído pela participação de todos os alunos concluintes, introduzindo-se essa mudança paulatinamente. Como aliás, já foi feito nas séries do ensino fundamental. E a inclusão das demais disciplinas também pode ser uma medida implantada progressivamente. Dessa forma, em um tempo possível de ser definido, o SAEB ampliaria sua condição de instrumento de coleta de dados sobre a conclusão do ensino médio. Sem perder totalmente a série histórica de dados, construída até aqui.

No texto postado por mim no dia 29 de agosto, defendi a ideia de um amplo debate nacional para repensar a estrutura e o funcionamento do ensino médio. A meu ver, o tema abordado hoje é uma das questões a ser incluída nesse debate.