quarta-feira, 20 de março de 2013

Estratégias em gestão: um exemplo ao contrário.

Os jornais de hoje estão noticiando que aproximadamente 300 redações (entre 4 milhões) do ENEM 2012 tiveram suas notas diminuídas porque os alunos incluíram “alguma inserção indevida”. Um exemplo: um estudante, no meio de um parágrafo, resolveu colocar parte do hino do seu time do coração!
Um professor de redação assim se pronunciou: “No mínimo, o aluno não está levando a sério (a avaliação do ENEM). E ele fugiu completamente do assunto”.

O professor tem razão. Mas, acho importante lembrar que o descaso do aluno tem como uma das causas a desconsideração com a qual é tratada essa parte do ENEM pelo próprio órgão encarregado do exame, o INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.

Relembrando: no famigerado ranking, por meio do qual foram divulgados os resultados do ENEM 2011, o instituto excluiu os resultados da redação e considerou exclusivamente as notas das quatro provas chamadas “objetivas” (como se redação também não contivesse aspectos objetivos e os testes fossem isentos de subjetividade...). Em 24 de novembro do ano passado, publiquei neste blog um texto sobre essa infeliz decisão, classificada por mim como extravagante.

Continuo pensando a mesma coisa. Como nossos estudantes podem dar a devida importância para esse importante instrumento de avaliação de aprendizagem, se ele é tratado dessa forma pelos responsáveis por um exame do porte do ENEM?

E não é só. Os alunos estão tendo acesso à correção das redações devido a inúmeras decisões judiciais obrigando o INEP a informar os critérios e mecanismos usados. Ora, todos nós sabemos muito bem que uma das mais importantes características de qualquer processo de avaliação de aprendizagem é a divulgação dos critérios de correção de forma transparente e antecipada.

Repito: meu colega professor, citado acima, tem razão. No entanto, aquele antigo provérbio ainda tem validade: “o exemplo vem de cima”. E, no caso, trata-se de um exemplo ao contrário, pois penso que a estratégia de gestão do órgão público está na contramão!

terça-feira, 5 de março de 2013

Estratégias em gestão: um exemplo.

A revista Veja de domingo passado (03/03) relata a situação da rede municipal de Novo Horizonte, pequena cidade do interior paulista. A notícia informa que há “... ao menos 70% dos estudantes da rede com aprendizado adequado à série que frequentam”, considerando os resultados da Prova Brasil de 2012.

Certamente, um grande feito. São cinco escolas de ensino fundamental, além de creches e escolas de educação infantil. E as medidas adotadas incluem “... um currículo unificado, avaliação freqüente de alunos, cooperação para formação dos professores – e também avaliação dos docentes – incentivo à participação dos pais na vida escolar e combate a fraquezas identificadas na rede”. Outro fator destacado na reportagem é a permanência do secretário municipal de educação – há 12 anos no cargo, situação incomum no Brasil, pois geralmente são trocados todos os gestores públicos a cada quatro anos!

Por fim, mas não menos relevante, a reportagem aborda a importância de colocar as redes de ensino fundamental sob a administração municipal. “Atualmente, cerca de 70% das séries iniciais (1º a 5º ano) está sob o domínio das cidades – onde se concentram os resultados menos desastrosos da educação brasileira. Nos anos finais (6º a 9º ano), há uma divisão praticamente igualitária entre estados e municípios”.

Concordo com os autores da matéria: é mesmo um excelente exemplo de estratégia de gestão na área educacional. E pouco importa que a quantidade de escolas seja pequena, supostamente facilitando a ação dos gestores municipais de Novo Horizonte. Muito mais relevantes são as medidas colocadas em prática – a lista indicada no segundo parágrafo, acima, revela coerência entre intenções e ações. Uma educação para todos e com qualidade (intenções) vale muito pouco se as atitudes correspondentes não são tomadas. Essa coerência é, seguramente, uma marca fundamental para uma gestão eficiente e eficaz.

Mas, sabemos que mudanças no campo educacional exigem tempo, produzem resultados após insistentes e continuadas políticas postas em movimento. Nesse sentido, a permanência do gestor em um cargo pode ajudar. Entretanto, essa solução não pode ser assumida como uma regra rígida. Mais importante do que um nome é a manutenção de uma política educacional coerente.

Coerente e, mais: com participação dos demais interessados na educação de crianças e jovens. Na experiência de Novo Horizonte, a notícia revela que há incentivos para a participação dos pais na vida escolar de seus filhos. Suponho que também haja motivação para o envolvimento dos professores e gestores das escolas municipais. Dessa forma, o esforço e o trabalho coletivo podem sustentar e qualificar ainda mais a política municipal de educação.

Se essa experiência pode ou não ser expandida para outros municípios, somente os respectivos dirigentes poderão responder. No entanto, que o exemplo oferece muitos elementos para refletir, analisar, ponderar, isso é mesmo inegável!