sábado, 27 de abril de 2013

“Menos democracia é melhor para organização da Copa”

Essa foi a declaração de Jerome Valcke, secretário geral da Fifa em um simpósio na Suiça. (Folha de São Paulo, 25/4/2013. p. d2) É o mesmo sujeito que, há um ano, ousou nos agredir com a infeliz frase: “O Brasil precisa de um chute no traseiro”!

É na mão de pessoas como ele que estão as decisões e ações relativas à copa do mundo em 2014. Além das constantes notícias de corrupção dos dirigentes da Fifa e alguns cartolas nacionais, temos também que suportar posicionamentos autoritários como esse. Profundamente lamentável!

Kroton + Anhanguera: avançamos?

As empresas Kroton e Anhanguera estão sendo fundidas. Darão origem ao maior grupo educacional do planeta! “Duas vezes o tamanho da vice do setor...” segundo a Folha de São Paulo, caderno Mercado, 23/4/2013, p. B1. A decisão das empresas ainda depende da aprovação (provavelmente apenas burocrática...) do CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

Mais uma fusão na área educacional, agregando aproximadamente 1.300.000 alunos! Em torno de 930.000 nos cursos superiores, 300.000 em escolas de educação básica e 70.000 nos cursos livres à distância. Distribuídos em 80 cidades brasileiras.

Segundo penso, uma imensa temeridade para a educação básica no Brasil. (Vou me ater a esse nível de ensino por ser essa a área de minha especialidade.)

Por que defendo essa posição? Porque considero extremamente difícil (ou até impossível) atender esse enorme contingente de alunos com um projeto pedagógico que leve em conta as características e demandas próprias de cada comunidade escolar. A alternativa que tem sido usada mais constantemente pelos assim chamados “sistemas de ensino” é a produção e uso de material didático uniforme para todas as unidades escolares a eles subordinadas.

É muito mais um movimento econômico-financeiro (as ações das duas empresas fecharam em alta no mesmo dia!) do que uma contribuição efetiva para a educação básica.

Sou adepto do conceito de escola unitária, com as características que descrevi no texto publicado neste meu blog em 06/09/2011: uma instituição educacional cujo projeto pedagógico resulta da intersecção entre os fundamentos educacionais propostos por seus instituidores e educadores e as demandas e necessidades da comunidade social na qual está inserida.

Uma escola local que não perde de vista o cenário global. Comprometida com um projeto pedagógico multicultural de inclusão e, por decorrência, em tempo integral.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Escola unitária e a nova lei.

No dia 4 de abril passado, uma nova lei foi sancionada pela presidente Dilma, introduzindo diversas mudanças na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. (1)

O principal destaque é a ampliação da escolarização obrigatória: dos quatro aos 17 anos, todas as nossas crianças e jovens deverão freqüentar a educação básica – educação infantil, ensino fundamental e ensino médio. Ao menos legalmente, um importante progresso!

Mas há outros dois avanços que quero aqui enfatizar. Mesmo não constando explicitamente nos documentos jurídicos, acontecem em diversas escolas públicas e particulares brasileiras.

O primeiro está ligado à ideia de inclusão escolar. No texto anterior da LDB, já estava previsto atendimento “especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais”.

Agora, na nova lei, ficou um pouco mais clara a ideia: atendimento “especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades”. Permaneceu no novo texto o princípio de atendimento “preferencialmente na rede regular de ensino”.

Fica reforçada a concepção de escola unitária que defendo. Já escrevi que esse tipo de escola tem três características: um projeto pedagógico multicultural, inclusão escolar e educação integral. (2)

A expressão “inclusão escolar” está melhor especificada até na legislação: trata tanto das crianças e jovens com deficiências ou transtornos como dos portadores de altas habilidades.

O segundo avanço também diz respeito a uma situação difundida em parte das instituições educacionais: a educação integral.

Ao se referir à organização da educação infantil, o novo texto estabelece o “atendimento à criança de, no mínimo, 4 horas diárias para o turno parcial e de 7 horas para a jornada integral”. Aqui também está fortalecida outra característica de uma escola unitária.

Aumentar o tempo de permanência de nossas crianças e jovens na escola certamente atende a uma demanda social, tendo em vista a ampliação da jornada de trabalho imposta à expressiva maioria dos pais.

Mas essa não é a única razão: o estudante precisa de mais tempo para ter acesso efetivo aos saberes e práticas curriculares em um mundo cada vez mais diversificado e complexo. A formação de cidadãos plenos requer muito mais do que as quatro horas usuais (em algumas situações, nem este mínimo tem sido garantido).

Significativamente, o prêmio Itau-UNICEF de 2013 tem como tema - Educação Integral: crer e fazer.

Sabemos que a simples menção em documentos normativos não garante a transformação de uma ideia em práticas escolares. É verdade! Mas, precisamos reconhecer que essas alterações no texto legal podem servir de incentivo e justificativa para os que acreditam e lutam pelo direito de todos a uma educação básica com qualidade. Essa é a minha aposta!

(1) É a lei 12.796 publicada no Diário Oficial da União no dia 5 de abril de 2013.
(2) Se você deseja conhecer com mais detalhes minha concepção, pode ler a postagem publicada no dia 06/09/2011.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Estratégias em gestão: o poder das crianças.

Ontem, dia 14/04, a Folha de São Paulo (p. C11) trouxe uma interessante notícia sobre a força que as crianças podem exercer em suas famílias quando adequadamente orientadas. Para ser fiel, transcrevo alguns trechos da matéria:

“... 197 crianças que participaram de um projeto educacional inédito que avaliou o poder de persuasão dos alunos na mudança de hábitos dos pais e na adoção de um estilo de vida saudável.
O estudo foi feito em uma escola privada de Jundiaí (SP) e publicado na revista científica “European Journal of Preventive Cardiology”. O projeto envolveu alunos com idades entre 6 e 10 anos e seus pais. Eles foram divididos em dois grupos, com duas abordagens diferentes. Pais de estudantes da manhã (grupo controle) receberam folhetos educativos com orientações sobre alimentação saudável. (...) Seus filhos não receberam informações.
Os pais dos alunos da tarde também receberam os folhetos, mas os filhos assistiram palestras sobre prevenção cardiovascular. Nutricionistas ensinaram como seguir uma alimentação saudável e fisioterapeutas explicaram a importância dos exercícios. Em momento algum foi dito às crianças para cobrarem dos pais essas atitudes saudáveis (...).
Ao final de um ano, 91% dos pais do grupo de intervenção (alunos da tarde) deixaram o estágio de alto risco com relação às doenças cardiovasculares. Já a diminuição entre os pais do grupo controle foi de 13%.”


A diferença nos resultados representa mais um alto estímulo para acreditar no impacto que a educação pode ter para provocar mudanças de comportamentos e de conhecimentos. A idade das crianças – 6 a 10 anos – reforça ainda mais essa importância. Muito provavelmente, elas se transformarão em jovens e adultos capazes de liderar outros processos de transformação social. Essa, pelo menos, é minha aposta!

E os instrumentos usados na pesquisa foram somente folhetos e palestras! Minhas experiências de gestão escolar me fazem acreditar que os resultados teriam muita probabilidade de serem ainda mais significativos se fossem utilizados projetos didáticos para o mesmo fim. De preferência, projetos interdisciplinares. Estou convicto: a importância do papel do professor é fundamental para alcançar ganhos expressivos na formação cidadã e ética de nossos alunos.

E ainda mais: se os pais fossem convidados e aceitassem participar desse trabalho coletivo, os efeitos tenderiam a ser muito mais duradouros. A reportagem informa que a mesma pesquisa está sendo realizada em escolas públicas de Campo Limpo Paulista (SP) com a proposta de “...ver, a longo prazo, se o efeito das mudanças será duradouro.”

Em quantos outros aspectos da sociedade poderiam ser produzidas mudanças se iniciativas como essa fossem expandidas! Sem dúvida, eis ai uma estratégia de gestão escolar promissora e instigante.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Estratégias em gestão: alguns fundamentos.

O modo de dizer ou fazer alguma coisa é tão importante quanto aquilo que é dito ou feito. Quantas vezes discordamos da atitude ou do discurso de alguém muito mais pela forma do que pelo conteúdo. Aliás, especialistas em comunicação defendem que forma e conteúdo compõem uma unidade indissociável. Inúmeras propagandas comerciais usam e abusam desse princípio.

Essa ideia está relacionada a um importante tema: escolha de estratégias para desenvolver a gestão numa escola. Estratégia é entendida aqui como um encadeamento de decisões e ações buscando alcançar metas estabelecidas em um plano de ação. Em outras palavras: alcançar uma situação futura considerada solução para problemas existentes ou reforço para êxitos já obtidos.

Ao fazer essas escolhas, precisamos prestar atenção a dois aspectos essenciais. O primeiro: reconhecer que qualquer estratégia depende fortemente dos recursos disponíveis para quem está formulando e/ou executando um plano de ação. Sabemos bem: nem sempre existem recursos (políticos, legais, culturais, econômicos e outros) suficientes para transformar as intenções em realidades.

O segundo: é preciso considerar que outros atores sociais (por exemplo: professores, alunos, pais, funcionários, autoridades superiores) também criam situações para alcançar seus objetivos. Deduz-se, portanto, que uma estratégia é sempre uma questão de poder e depende da correlação de forças entre os diversos sujeitos envolvidos na instituição escolar.

Carlos Matus, autor do Planejamento Estratégico Situacional, agrupa os meios estratégicos em algumas categorias. Minhas experiências e estudos indicam que as mais usuais na gestão das escolas são as seguintes:

1. IMPOSIÇÃO – mediante o uso de autoridade hierárquica, alguém estabelece determinações e diretrizes obrigatórias para todos os demais integrantes da instituição.
2. PERSUASÃO – um participante consegue convencer outros sobre seus objetivos e ideias, obtendo apoio sem ceder ou mudar nada do que está propondo.
3. NEGOCIAÇÃO – os envolvidos na situação conseguem compor acordos considerados bons para todos. Geralmente implica em fazer concessões pelos participantes. Pode ser uma negociação cooperativa (todos saem ganhando), conflitiva (uma parte ganha e outra perde) ou mista (combinação das duas anteriores, considerando os diversos aspectos envolvidos na situação.)
4. MEDIAÇÃO – há circunstâncias em que a atuação de um mediador é a melhor forma para solucionar algum conflito. Em geral, acontece quando ceder alguma coisa tem um preço muito alto, mas os participantes não querem partir para uma confrontação.
5. CONFRONTO – quando um participante ou um grupo submete os demais aos seus objetivos e ideias, mediante uso ou ameaça de uso de força por quem é ou se considera mais forte.
6. GUERRA – há medição violenta de forças, no plano físico ou psicológico, pois alguém decide impor arbitrariamente suas ideias aos demais integrantes da situação.

No exercício dos cargos de direção, coordenação, supervisão, orientação, quantas vezes optamos por usar estratégias sem ter os conhecimentos necessários para fazer escolhas adequadas e eficientes! No momento em que escrevo este texto, relembro que nem sempre tive a imprescindível consciência sobre o que estava selecionando como meio para alcançar metas e objetivos.

Acredito que um aspecto primordial na formação de gestores escolares seja a ampliação e o aprofundamento das reflexões sobre esse tema. Com o intuito de ajudar nesse estudo, indico duas fontes:
1. O livro O método PES: entrevista com Matus. O autor é Franco Huertas e a editora é a FUNDAP (São Paulo), publicação em 1996.
2. Minha dissertação de mestrado O trabalho pedagógico não docente na escola: um ensaio de monitoramento. Dedico um capítulo para discutir o assunto na dissertação defendida em 1995 na Faculdade de Educação da USP.