segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Parabéns aos 107 do Rio Branco.

As meninas e os meninos do ensino médio do Colégio Rio Branco merecem nossos mais calorosos parabéns. Protestaram contra a instalação de câmaras nas salas de aula? Não!

Resistiram contra a falta de diálogo da direção da escola. E o fizeram maduramente! Nada de violência, nada de bagunça, nada de agressão. Resistência bem ao estilo dos grandes líderes – Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela.

E a direção da escola reagiu como os opositores desses cidadãos: suspensão para todos! Os dirigentes perderam uma preciosa oportunidade de aprendizagem com os 107 alunos, qual seja: quando se deseja introduzir alguma mudança na cultura institucional de uma escola, a estratégia mais educativa, efetiva e eficiente é o diálogo com todos os participantes.

Evidentemente, o diálogo poderá levar a alguma decisão diferente daquela que seria tomada pelos gestores, se decidissem sozinhos. Mas essa é a condição principal de todos nós, educadores: ter a humildade de reconhecer que continuamos sendo sempre aprendizes. E muitas vezes quem nos pode ensinar são aqueles a quem nós temos a responsabilidade de educar.

Poderíamos aqui ficar discutindo a validade e a oportunidade da colocação de câmeras de vídeo em salas de aula. Como, aliás, foi predominante nas matérias jornalísticas veiculadas sobre o caso. Ainda que eu tenha posição totalmente contrária a essa medida, não me parece que seja esse o ponto central. A opção da direção da escola por uma atitude unilateral é a questão de fundo, a meu ver.

Meus parabéns para os jovens. Vocês souberam mostrar maturidade e lucidez. É até muito provável que essa atitude seja decorrente de ensinamentos e orientações dos educadores da sua escola. Entretanto, dessa vez os dirigentes não honraram as lições do patrono, Barão do Rio Branco! Oxalá percebam isso e tomem alguma atitude digna e educativa. Sempre é tempo!

Um último recado: em algum momento, cada um estará elaborando seu curriculum vitae para ingressar no mercado de trabalho. Não esqueça: mencione que você é um dos 107 do Rio Branco. Muitas empresas e instituições estão valorizando os profissionais criativos, críticos e coerentes.

8 comentários:

  1. Aurea Oliveira • É muito fácil criticar uma situação quando não se está diretamente envolvido.
    Acho sim que todos estão de parabéns por trazer a tona uma situação de desrespeito que ocorre frequentemente na sala de aula, nos corredores, entre os alunos e entre alunos e professores. Noticia-se casos de "bullying" a todo momento na escola. Inclusive muitos deles, filmados, pelos próprios alunos, que além de tudo divulgam nas mídias recriando um inferno. A Diretora reconhece que a falha foi em não ter avisado os alunos antes. E reforça que ela tem que preservar a maioria.
    Porque tanta indignação....os alunos querem ter a sua "privacidade" garantida? E quando são eles mesmos que filmam e ridicularizam os outros??? A escola tem que ensinar, quem educa são os pais. A escola tem que garantir o ensino à maioria, ainda que tenha que se utilizar de câmeras (e não câmaras). Chegou a vez do Colégio "filmar"o que se faz na sala de aula. Parabéns ao Colégio Rio Branco pela coragem e ousadia em tentar medidas que preservem aqueles que querem aprender e são bem educados pelos pais.

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    1. Por que tanta indignação? Não é para que os alunos tenham sua "privacidade" garantida, não! Pela simples razão de que uma sala de aula é um local público destinado ao ensino e aprendizagem de todos que dela participam. E, nesse ponto, preciso discordar de você, Aurea: a escola tem que ensinar e também educar. Essa divisão estanque - escola ensina, pais educam - está superada há muito tempo. Hoje, em minha opinião, tanto a escola como os pais ensinam e educam, pois o ensino está intimamente associado ao processo educacional. É por conta disso que a escola tem que garantir ensino e educação para todos.
      Em um outro ponto, concordo com você: é preciso fazer alguma coisa diante dos casos de "bullying" e de filmagens que ridicularizam alunos e professores. Tem toda razão. Pode ser até com o uso de câmeras (apesar de ser contra...). O que é central para mim é a necessidade de buscar soluções coletivas para esse tipo de problema. Se a diretora do Rio Branco reconheceu a falta de diálogo, melhor! Em próximas ocasiões, a participação dos envolvidos na situação poderá ser a primeira medida a ser tomada, concorda?

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    2. Aurea Oliveira • Não é indignação....é o testemunho de quem trabalhou por 6 anos no Colégio Rio Branco e viveu a qualidade do trabalho que é desenvolvido. Sei também dos desafios enfrentados no dia a dia para conter uma juventude com uma alta competência intelectual porém aquém na competência emocional. O Colégio abre as portas sempre para o diálogo, mas muitas vezes a resposta foi na via da agitação, tumúltuo, confusão, ofensas. Entendo a Direção ter tido essa atitude ousada e corajosa. Tão ousada e corajosa, que hoje estamos aqui falando desse assunto, bem como a mídia discutindo a polêmica gerada. É fato que jovens precisam ser ouvidos, mas também contidos quando ultrapassam os limites da tolerância em um quase corporativismo juvenil. Tenho certeza que se os alunos realmente indignados formasse um grupo e procurasse a Direção para colocar seu desagrado, seriam respeitosamente ouvidos, exercitando uma prática desenvolvida na escola. Preocupa-me, seriamente, essa juventude desenfreada ser reforçada positivamente ao fazer baderna, muito distante de movimentos estudantis nos anos 60/70 que continha um importante foco de mobilização social. Eles estão longe disso.

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    3. Prezada Aurea, concordo plenamente com você quando afirma que os jovens precisam ser ouvidos mas também contidos. Em minha trajetória profissional, como gestor em escolas, muitas vezes também decidi aplicar penalidades, como a suspensão, diante de atitudes de reincidência praticada por alunos que já tinham sido, previamente, orientados, ouvidos, apoiados. Creio que sua experiência de gestora educacional confirma essa maneira de agir.
      No caso em análise, o noticiário relata que a direção da escola implantou os equipamentos sem qualquer diálogo prévio com os alunos. Esse é o ponto central. Insisto: diálogo PRÉVIO como uma providência educativa e como um gesto valorizando a participação deles. A decisão, nesse caso, até poderia ser outra, se a finalidade – monitoramento de comportamentos em sala de aula – fosse mantida. A direção da escola, como sabemos, admitiu essa falha. E eu não tive noticias de que o comportamento de resistência dos alunos tenha sido de baderna, agitação, tumulto, confusão, ofensas. Se isso tivesse ocorrido, dificilmente deixaria de ser objeto de divulgação nos meios de comunicação, concorda?

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  2. Carlos Sanches • Prezados Carlos e Aurea, acho que alguns fatos comprovados na relação pais-escola-alunos são fundamentais:
    1. Os pais dos alunos das atuais gerações do ensino básico (fundamental e médio são gerações diferentes), em grande parte, têm melhores condições econômicas que seus próprios pais tinham e dão a seus filhos muitos bens materiais que não tiveram quando tinham a mesma idade que seus filhos têm hoje, e claro, mais os dispositivos que existem atualmente e não existiam no passado (tablet, smartphone, etc).
    2. Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, os filhos das atuais gerações não tiveram e não têm a mesma atenção materna que seus pais tiveram no passado.
    3. Muitos pais dizem não ter tempo para acompanhar a vida de seus filhos.
    4. A maioria dos alunos das gerações atuais não ouve um "não" dos pais.
    5. Os pais procuram não "punir" seus filhos quando fazem algo errado por achar que foram muito "punidos" no passado pelos próprios pais, mas, também, não conversam com eles para resolver o problema de modo mais "civilizado".
    6. Os modelos culturais atuais (filmes, música, etc) são muito pobres em conteúdo, não sendo referências que agreguem qualidade à vida das pessoas dessas gerações.
    7. Há um exagero no uso diário de computadores e smartphones para utilizações de entretenimento e bate-papo (redes sociais) em detrimento à leitura e conversas "face-to-face" para usar uma palavra que está na moda, o que torna a vida dessas pessoas mais superficial e vazia de emoções verdadeiras.
    8. A obrigação dos pais é educar; a da escola é escolarizar, parafraseando o grande filósofo contemporâneo Mario Sérgio Cortella.
    Se juntarmos tudo isso, acho que vamos entender o comportamento da maioria dos atuais alunos.

    Obs.: Claro que existem pais que não se enquadram nesses itens; normalmente seus filhos são os alunos mais interessados, focados e respeitosos das escolas, ou seja, os mais educados verdadeiramente.

    Vocês concordam com esses itens?

    Abs

    1 dia atrás

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    1. Prezado Carlos Sanches, antes de mais nada, obrigado por participar de nosso debate, é sempre muito estimulante ver que outras pessoas se interessam pelos assuntos que abordamos neste grupo.
      Quanto à sua pergunta: concordo, sim, com praticamente todos os pontos abordados por você. Em especial, com os de números 4 e 5. Não conseguir dizer “não” e não conversar com os filhos são duas posturas que encontrei muitas vezes nas relações com pais e mães, como parte de minhas atividades de direção e coordenação nas escolas de educação básica. Foram muitos os casos em que essas posturas eram provocadas por um desconhecimento (e, até, desvalorização) de uma das mais importantes missões de um pai ou mãe – estabelecer e fazer respeitar limites. Esses dois itens, por si só, poderiam render muitos e muitos debates.
      Somente em um ponto indicado por você – nº 8 – penso que temos alguma diferença: em um comentário que publiquei há quatro dias, já externei minha posição – tanto a família como a escola precisam educar e ensinar. Por sinal, as duas instituições precisam atuar em uma parceria muito forte para cumprir suas responsabilidades diante das novas gerações. A diferença entre elas é que somente a escola tem possibilidades de escolarizar, ou seja, tratar o processo educacional (que inclui os processos de ensino e aprendizagem, mas não só) de forma institucionalizada. O que lhe parece?
      Uma última referência: creio que estamos falando das famílias que têm poder aquisitivo para manter seus filhos em escolas particulares. No caso das famílias cujos filhos estão nas escolas públicas ou não estão em escolas, parece-me que a realidade é outra. Concorda comigo?

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  3. Professor os alunos não foram consultados?
    O Colégio devia ter colocado o assunto na roda de debate e ter esclarecido a real necessidade.
    Não sei muito bem como foi conduzido pela equipe, mas o problema na minha opinião se estabeleceu na falta de diálogo entre os professores e alunos, por isso alguns alunos se sentiram invadidos. Talvez a falta de diálogo se deu porque os professores também se sentiram invadidos.....
    Em contrapartida, o Colégio deve ter fortes argumentos para a instalação das câmeras.
    Se não houver diálogo ao invés de se sentirem protegidos em situações graves, os alunos poderão se sentir vigiados e isso é péssimo para as relações interpessoais no Colégio.
    O interessante de toda a situação foi que os alunos pediram a escuta da escola e das famílias e o assunto mesmo que de forma um pouco torta foi colocado na roda.
    Essa questão foi a mais valorosa do episódio, agora o fato é que precisamos não só ouvir os alunos e as famílias mas escutá-las não é?

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    1. Realmente, Valéria, precisamos "escutar" nossos alunos e famílias. Muito boa essa sua lembrança: a diferença entre "ouvir" e "escutar"! Nem sempre prestamos atenção nas mensagens que alunos e famílias nos transmitem. E, ai, perdemos excelentes ocasiões de aprendizagem com eles.
      Obrigado pelo comentário e um abraço.

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