quarta-feira, 28 de novembro de 2012

SARESP... ENEM... RUF...

A realização das provas do SARESP (Sistema de avaliação de rendimento escolar do Estado de São Paulo) foi noticiada pelo jornal Folha de São Paulo em uma pequena nota do caderno Cotidiano (27/11 – p. c3). Uma divulgação bem mais modesta do que a do ENEM (Exame nacional do ensino médio) e do RUF (Ranking universitário Folha), para citar apenas dois exemplos.

Quais seriam as causas dessa diferença? Certamente são muitas, mas quero enfatizar aqui uma delas, em minha opinião: o ENEM, o RUF e outros sistemas de avaliação produzem ranking. Oferecem inúmeras possibilidades de propaganda para incentivar matrículas, especialmente nos meses finais do ano. Não tenho nada contra os anúncios para expor os projetos das escolas e conquistar mais alunos. Entretanto, penso que os órgãos de supervisão educacional não deveriam colaborar com (e até incentivar) a publicação dessas classificações de escolas.

Coerentemente com essa ideia, os procedimentos do SARESP são exemplo a ser ampliado. Neste ano, acontecerá a 15ª edição das provas. As disciplinas são Língua Portuguesa, Matemática, Ciências e Ciências da Natureza e Redação. Os alunos do 3º, 5º, 7º e 9º ano do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio participam. O sistema permite, portanto, uma visão seqüenciada da evolução dos estudantes ao longo da educação básica.

Mas, não é só: a participação das escolas estaduais é obrigatória; as escolas municipais podem ser incluídas se as prefeituras desejarem (nesse caso, o Governo do Estado assume todas as despesas); as escolas particulares podem também aderir, arcando com os respectivos gastos.

Neste ano, são 2,3 milhões de alunos, sendo: 1,6 milhão das escolas estaduais, 619 mil das municipais , 43,6 mil das particulares e 17,5 mil do Centro Paula Souza. Como se vê, números nada desprezíveis, quando se pensa na infraestrutura necessária para elaborar, distribuir e aplicar as provas e, depois, para corrigi-las. As provas são aplicadas no local mais conhecido, confortável e tranqüilo para cada estudante: a sua própria sala de aula! E no seu horário escolar. Sem atropelos... sem tumultos...

E ainda: as matrizes de referência do SARESP – documentos orientadores para o currículo escolar no Estado – estão publicadas desde 2009, após estudos dos órgãos da Secretaria da Educação com a participação de educadores das escolas estaduais. Dessa forma, as escolas participantes podem utilizá-las como uma orientação estável e duradoura para organizar seus planos pedagógicos. E diante dos resultados, avaliar o trabalho realizado e introduzir as mudanças necessárias. Esses procedimentos permitem também a constituição de uma série histórica de resultados e, se bem utilizados, a formulação de políticas públicas para a área com substanciais elementos da realidade no estado. Se qualquer pessoa quiser conhecer esses documentos, basta acessar http://saresp.fde.sp.gov.br/2012/

O que mais quero destacar é o TRATAMENTO DOS DADOS produzidos pelo SARESP. Cada escola recebe seus resultados, acompanhados de médias no estado e no município e separados em unidades estaduais, municipais e particulares. Não há ranking, não há anúncios informando a classificação no SARESP, não há comparações entre uma escola situada em Presidente Prudente com outra em Dourado ou na Av. Paulista. Se algum veículo de comunicação deseja organizar seu próprio ranking (como o RUF da Folha de São Paulo) terá que fazer uma longa e exaustiva pesquisa, por sua conta e risco.

Há muitos efeitos decorrentes dessa postura relativa ao tratamento dos dados. Como gestor escolar, enfatizo o seguinte: quando uma escola recebe o seu boletim, seus professores e dirigentes podem tranquilamente analisar os dados, organizar comunicações para suas famílias, tomar deliberações sobre mudanças, planejar a implantação das medidas e muitas outras ações semelhantes.

Em contrapartida, qual é o quadro para os educadores quando, por exemplo, o ministério resolve publicar a classificação das escolas pelo ENEM? Redação frenética de comunicados para os pais, produção imediata de anúncios para serem veiculados no dia seguinte, angústia e apreensão quando não foi alcançada a posição esperada, pesquisa apressada para entender porque a porcentagem de presença de alunos foi menor do que o anunciado por eles ou porque as médias ficaram situadas em patamares diferentes dos esperados.

É mesmo lamentável que, nessas ocasiões, seja negado aos educadores a possibilidade de uma atuação serena, profissional e eficiente para administrar uma situação que pode propiciar melhoria da qualidade dos serviços educacionais!

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