terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ensino Médio: mais disciplinas?

Está tramitando no Senado um projeto do senador Sergio Souza (PMDB-PR) inserindo mais duas disciplinas no currículo da educação básica: cidadania moral e ética (ensino fundamental) e ética social e política (ensino médio).

Li com alegria o noticiário de que o MEC manifestou-se contrário a aprovação do projeto por considerar essa ampliação de disciplinas obrigatórias uma solução inadequada. Estou de pleno acordo com a posição do ministério.

Imagino que as motivações do senador sejam as melhores possíveis. Suponho que, como eu, ele deseja fortalecer a formação cívica e ética de nossas crianças e jovens, propiciando a eles oportunidades de ensino e aprendizagem orientadores de seus comportamentos. Não só na escola, mas para a vida toda. Sabemos o quanto é importante assimilar e incorporar, desde a infância, os valores que constituem a base da vida social.

No entanto, tem razão o ministério, segundo penso. Ampliar a quantidade de disciplinas obrigatórias na educação básica é um caminho ineficiente. A formação cívica e ética precisa ser um tema transversal, presente em todas as disciplinas e atividades escolares.

Em 1998, publiquei, em co-autoria com meu amigo Paulo Afonso Ronca, o livro A Clara e a Gema – o viver-na-escola e a formação de valores. (Editora Edesplan, São Paulo). Um dos trechos que, para mim, expõe nitidamente nossa visão está na pg. 90:

“Acreditamos que os professores ... possam interligar os dados daquela realidade vista ou experimentada (pelos alunos) com o conteúdo acadêmico estudado. Assim estarão ajudando os alunos no desenvolvimento da compreensão, não só dos mesmos conteúdos, como de uma compreensão mais ampla, mais existencial. Acreditamos que, na participação em projetos que estimulem a solidariedade, ou na reflexão sobre ela, encontra-se um terreno fecundo para que o ser humano aumente a compreensão de si mesmo e plante ideias e ideais de co-operação.”

Passados todos esses anos, continuo acreditando firmemente nessa posição. Os conteúdos das disciplinas já previstas nas diretrizes curriculares nacionais da educação básica podem ser tratados mediante forte ligação com a realidade social na qual estão inseridos nossos alunos. Digo “podem” porque nem sempre isso acontece. Essa decisão requer da escola e de seus educadores um posicionamento político-pedagógico e uma metodologia de ensino-aprendizagem coerentes com essa escolha. COERÊNCIA: essa é a chave principal – professores cuja atuação sirva de modelo para as crianças e adolescentes. Todos nós, certamente, lembramos dos mestres que nos marcaram por meio de suas atitudes exemplares.

Esse me parece ser o caminho efetivo: investir cada vez mais na formação de educadores que acreditam e praticam essa relação entre os conteúdos das disciplinas e a realidade social. O inchaço provocado por ampliação das disciplinas obrigatórias pouco poderia concorrer para esse fim, em minha opinião.

4 comentários:

  1. Não creio que acrescentar mais matérias na educação básica resolveria os problemas do ensino em nosso país. Uma remuneração mais justa e coerente aos educadores deveria tornar a profissão de professor ou pedagogo mais atraente, pois, pelo que me consta, essa profissão está sendo cada vez menos procurada pelos estudantes que ingressam nas universidades. Desta maneira, teremos cada vez menos professores interessados em melhorar seus currículos, fazendo cursos de pós-graduação e especialização, que, certamente, ajudariam a melhorar qualidade do ensino.
    Um abraço,
    Eva Hamer

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    1. Prezada Eva,
      É verdade, mesmo, cara Eva, você lembrou um aspecto por demais importante: a valorização dos profissionais de educação. É uma medida necessária e que, ao lado de algumas outras, teria efeitos muito mais expressivos na qualidade educacional do que ficar aumentando número de disciplinas. Bem lembrado mesmo. Obrigado pelo seu comentário.
      Grande abraço.

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  2. Eva e Carlos Luiz, concordo com vocês!!

    Há um material publicado pelas profas. Bernadete Gatti, Elba Siqueira e Marli André " Políticas Docentes no Brasil", que retrata bem o perfil dos jovens que procuram os cursos de Pedagogia e a situação dos cursos oferecidos na modalidade EAD.

    Também sou contra o inchaço curricular e ainda acho que os cursos de Pedagogia precisam de uma reformulação urgente, como parte do "pacote" de melhorias das condições do trabalho docente!!!

    Se por um lado os mais jovens não buscam mais a docência, é preciso que além de melhores salários e maior atratividade na carreira, existam também cursos que de fato os prepare para o trabalho que devem desenvolver em sala de aula, o que sem dúvida elevaria a qualidade do ensino e quem sabe reduziria, um pouco, o caráter persecutório que se instala na escola após cada resultado de avaliação...

    São muito os desafios!!! Mas é preciso começar por algum, não é mesmo?

    Um grande abraço,
    Karina.

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    1. De fato, Karina, é preciso começar por algum ponto. E penso que a formação dos professores é um dos aspectos mais prioritários. Seja a formação inicial, seja a continuada. Um grande desafio! Que é preciso enfrentar com a máxima urgência.
      O trabalho citado por você deve ajudar bastante nessa empreitada. Vou procurar esse material. Obrigado pela indicação e um grande abraço,
      Carlos Luiz.

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