sábado, 4 de agosto de 2012

Ensino domiciliar ou educação domiciliar?

Penso que a expressão “ensino domiciliar” é a correta. Conforme prometi no texto anterior, explico as razões de minha posição.

Educação é um processo social amplo e acontece em todos os espaços e tempos da história da sociedade em geral e de cada indivíduo, em particular. À medida que os conhecimentos acumulados pela humanidade foram se ampliando e sua transmissão às novas gerações passou a exigir fundamentos e procedimentos mais sofisticados, a criação das escolas foi acontecendo. Com o tempo, essas instituições assumiram a tríplice missão que as caracteriza até os dias de hoje: a) transmitir/construir os conhecimentos humanos – a filosofia, as ciências e as artes – para e com as novas gerações; b) complementar e ampliar a socialização das pessoas; c) expandir e colocar em prática a formação de valores.

Essas tarefas sociais não são exclusivas da escola. Em nossa sociedade, espera-se que as famílias tenham importantes contribuições, especialmente nas fases iniciais de desenvolvimento. Além disso, outras instâncias podem apoiar as pessoas em diversas etapas de suas vidas – as igrejas, os clubes, as empresas, o teatro, o cinema, os grupos, os partidos políticos, a televisão, a internet, dentre tantos outros.

Mas, então, o que diferencia a escola dessas organizações? Dois aspectos: 1) seu caráter intencional – ela foi criada especificamente para educar; e 2) os fundamentos e recursos especializados para a educação das novas gerações, concebidos pela pedagogia. Para tanto, as escolas organizam o currículo e a atuação dos educadores responsáveis pela docência, gestão e apoio. Todos nós sabemos que, na prática, há muitas lacunas e problemas na estrutura e no funcionamento das escolas e no desempenho de uma parcela de educadores. Mas, sabemos também da existência de muitas instituições escolares que estão evoluindo, aproximando-se progressivamente desse ideal.

A socialização e formação de valores pressupõem a exposição dos educandos a situações diversificadas de convivência e relacionamento, somente possíveis quando estão inseridos em instâncias sociais mais amplas do que a família, pois seus membros podem ter forte influência no processo de socialização e formação de valores, mas não conseguem oferecer a multiplicidade de oportunidades que esses processos exigem para um desenvolvimento integral das novas gerações.
As ocasiões de escolha propiciadas pelas diferenças de opinião e de comportamentos – para falar somente de alguns aspectos – são chances de crescimento, desde que, claro, os educadores estejam comprometidos com a formação global de seus educandos. Essa condição é inegavelmente inviável se crianças e adolescentes forem privados da convivência escolar. Nessa hipótese, restará aos seus pais a tarefa do ensino e ocasiões restritas para orientar a socialização e a formação de valores. (Lembrete, por oportuno: as tarefas de ensino requerem conhecimentos e habilidades especializadas que a maioria dos pais não tem. Mas isso já é outra questão.)

São essas as razões que me levam a considerar a expressão “ensino domiciliar” como mais adequada à opção dos pais adeptos de excluir seus filhos do sistema escolar.

2 comentários:

  1. Gostei muito dos artigos sobre o ensino domiciliar!!!!

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    1. Olá, Karina, fico contente que você tenha apreciado os artigos. Vamos continuar debatendo o tema, OK?
      Grande abraço,
      Carlos Luiz

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