quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Ensino médio: “muita calma nessa hora...”

Extinguir disciplinas... Organizar um currículo em quatro áreas... Substituir a Prova Brasil pelo ENEM para compor o IDEB do ensino médio... Investir na formação de professores... Lacre eletrônico para segurança das provas do ENEM... Concurso nacional para professores...

Decididamente, nos últimos 15 dias, o ensino médio é a “bola da vez”! Reportagens, entrevistas com pesquisadores brasileiros e estrangeiros, análises comparativas de todas as ordens, artigos com opiniões controvertidas... Muitos debates, muitas ideias (algumas apresentadas como novidades, quando, de fato, não são...), inúmeras sugestões! De minha parte, vou continuar acompanhando todo esse movimento para ver até quando vai! Torcendo para que não caia no esquecimento, como tantos outros na área de educação.

Toda a agitação veio em decorrência dos dados do IDEB 2011 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), divulgados pelo MEC no dia 15 de agosto. O resultado do ensino médio foi catastrófico: enquanto nação, “passamos” de 3,6 em 2009 para 3,7 em 2011! A busca frenética por soluções que nos tirem desse triste patamar, como se fosse possível algum milagre, é o pior encaminhamento, a meu ver.

É preciso estabelecer um pacto nacional em torno de algumas prioridades. O MEC e o Conselho Nacional de Educação poderiam desencadear e liderar um amplo movimento envolvendo as secretarias e conselhos estaduais e municipais de educação, as universidades, os partidos políticos, os sindicatos e associações profissionais, as editoras, os representantes de empresas, os artistas, os meios de comunicação, as organizações não governamentais e quem mais possa se interessar e tenha disposição para enfrentar a situação.

Com um sorriso no canto da boca, alguns poderiam pensar: Ingenuidade! Pouco poderia sair de produtivo e eficiente de um diálogo nacional como esse!

Eu reconheço: é mesmo difícil. A experiência que vivemos durante a elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 não foi mesmo muito estimulante. Depois de anos de discussão com a intensa participação dos setores sociais envolvidos com o sistema educacional brasileiro, a redação elaborada pelo senador Darcy Ribeiro, aprovada quase na íntegra pelo congresso, não considerou inúmeras propostas apontadas anteriormente. No entanto, a comparação entre o texto oriundo das amplas discussões nacionais e aquele finalmente confirmado pelo legislativo revela que algumas posições do primeiro foram mantidas devido ao forte peso que passaram a ter por conta do processo de reflexão e debate coletivo. Um exemplo? A tentativa de reduzir o ensino fundamental de oito para seis anos foi barrada diante da indignação generalizada que se espalhou por todo o país.

Um amplo debate nacional demora muito tempo para acontecer e produzir mudanças efetivas para melhorar a qualidade educacional do ensino médio brasileiro. É verdade!
(Só a discussão sobre a identidade do ensino médio demandaria exaustivos diálogos para superar a ambigüidade que, historicamente, marca esse nível da educação básica: deve preparar para o ensino superior ou para o ingresso no mercado de trabalho? Ou para ambos?).

A demora, em minha opinião, compensa. As propostas apressadas e elaboradas por alguns seriam substituídas pelas formuladas mediante consensos entre os atores sociais envolvidos na urgente missão de superar a catástrofe. Todos nós sabemos: essa superação acontecerá mediante um grande esforço coletivo, que, por sua vez, depende do envolvimento e adesão de todas as forças sociais. Sem milagres! Sem mágicas!

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