sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Dez anos... quanta perplexidade!

Os jornais de hoje destacam, em primeira página, a tragédia acontecida em uma escola municipal em São Caetano do Sul, cidade onde vivi toda a minha infância. Um menino, 10 anos de idade, atirou na sua professora e, em seguida, suicidou-se.
O noticiário informa que seus colegas não relatam dificuldades anteriores de comportamento do garoto que pertence a uma família conhecida por seus hábitos religiosos, era acompanhado diariamente pela mãe ao ir para a escola a qual, por sua vez, se destaca pelos índices muito satisfatórios nos sistemas de avaliação mais conhecidos.
Uma enorme e angustiante lista de perguntas inundou meus pensamentos. O que teria causado tamanha tragédia? Por que o garoto – somente 10 anos de vida – decidiu ferir a sua professora? E, mais... tirar a própria vida? E com DOIS tiros, como a mostrar uma decisão inabalável. Por que tanta violência? Que sentimentos ele experimentou entre uma e outra atitude? O que passou por sua cabeça ainda tão nova?
Como também sou pai, fiquei me perguntando: como está se sentindo o pai do garoto? E sua mãe? Os jornais informam que o pai percebeu que o revolver tinha desaparecido naquela manhã e foi até a escola para perguntar aos filhos se tinham alguma notícia sobre a arma. A resposta foi negativa e o pai não tinha nenhum motivo para desconfiar de que ela não era verdadeira. O que terá levado o garoto a essa mentira?
E a professora, como se sentiu? Que pensamentos, que sentimentos vivenciou no momento seguinte? Em sua cama no hospital, como estará encarando tudo isso? Vai continuar dando aulas? Terá a grandeza de perdoar seu aluno?
E os demais professores? Os outros alunos? A diretora? Os funcionários? Como reiniciarão as atividades dentro de alguns dias?
São tantas as perguntas... E eu, educador que sou, o que faço com minha imensa perplexidade?
Em 23 de setembro de 2011, um início de primavera com cara ainda de inverno. Tanto no clima como na minha alma.

9 comentários:

  1. A sensação descrita é a mesma que senti quando vi a notícia... Estive numa palestra sobre a violência na escola, na USP, na semana passada e muita coisa foi dita sobre a violência que vem de fora para dentro da escola... mas nada foi pensado/falado sobre a violência que é gerada dentro do espaço escolar... Acho que precisamos resgatar um texto da Vera Candau (que lemos no curso de OESE-PUC)... e refletir sobre a escola como um espaço de relações que também produz a violência... quando não temos uma escola unitária,desconsideramos as necessidades da comunidade atendida,não temos critérios claros sobre os conteúdos a serem trabalhados, sobre as avaliações, quando não pensamos nas condições de trabalho dos professores, quando culpamos as famílias e os alunos pelo fracasso escolar/indisciplina, não pensamos no números de alunos por sala, não disponibilizamos espaços para a reflexão e o estudo, e, em última análise, quando negamos à sociedade o acesso à uma educação de qualidade (seja lá por quais razões)... estamos contribuindo para que a violência seja também produzida dentro da escola...

    ResponderExcluir
  2. Realmente, essa notícia é algo estarrecedor. E mais... Inexplicável. Diante de tamanha tragédia, todas as respostas parecem pequenas e não nos satisfazem. Mas uma coisa eu imagino: esse menino tinha muito sentimento preso dentro dele e não sabia como dar vazão. E quando o sentimento veio, era tão grande que atropelou tudo. Uma pena.

    ResponderExcluir
  3. Perguntas que, em sua maioria, deverão ficar sem resposta. Mas reforça-se a minha impressão de que a posse de uma arma de fogo potencializa a ocorrência de uma tragédia, ainda que, nesse caso, a arma fosse necessária à profissão do pai.

    ResponderExcluir
  4. É, Raquel e Ronaldo,
    Algo totalmente inexplicável... pelo menos até onde nós podemos ver!
    Obrigado pelos comentários.

    ResponderExcluir
  5. Para a Karina:
    Você está nos lembrando algumas causas de violência dentro da escola. Muito bem lembrado! Eu acho que nosso primeiro movimento precisa ser mesmo esse: procurar os motivos que podem causar comportamentos como esse nas nossas atividades escolares, nas nossas relações na escola e tantos outros.

    ResponderExcluir
  6. Me parece que não há compreensão possível para essa situação. Não há respostas. Mas há a necessidade de rever algumas coisas dentro do espaço escolar. A reflexão, o diálogo e tantos outros conceitos precisam tomar espaço maior e sair do "plano" dos conceitos para sua efetivação. O que farão as escolas agora diante do que nos tem sido apresentado? O que faremos nós educadores?

    ResponderExcluir
  7. Perguntas realmente importantes as suas, Roberta. E elas somente podem ser respondidas por nos, nunca por um de nos, isoladamente!
    Concorda comigo?
    Obrigado por seu comentario e um abraco.
    Carlos Luiz

    ResponderExcluir
  8. A decadência moral da sociedade brasileira, a carência absoluta de valores éticos em larga escala nos lares e escolas, a desagregação familiar aliada ao consumismo descomedido são ingredientes pervesos que, em conluio, produzem resultados tão nefastos e inaceitáveis como o agora comentado. E assim será, até que nós acordemos para essa realidade e façamos uma profunda reforma familiar e social em nossa sociedade.

    ResponderExcluir
  9. Caro amigo ou amiga,
    Você está apontando diversas causas para um acontecimento tão desumano e incompreensível. Ontem, em um programa de televisão, foi entrevistada a professora que levou o tiro. Um mês após a tragédia, ela ainda não entendeu o que levou o menino a esse gesto tão extremo. E eu penso que não haverá possibilidade de entender esse comportamento. Mas, concordo com você: precisamos "acordar" para essas causas e muitas outras que estão minando a formação de nossas crianças e jovens. Vamos nos ajudar mutuamente na procura de saidas, tanto nas escolas como nas famílias. Nos partidos políticos e nas igrejas. Nos clubes e nas empresas. Nos esportes e nas atividades culturais. Enfim, em todos os lugares e tempos possíveis.
    Grande abraço e obrigado pelo comentário.

    ResponderExcluir