quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Escolas unitárias: diretores e coordenadores em foco!

"Há duas coisas que um homem jamais se cansa de observar: o fogo e a água corrente. Sempre os mesmos e, ainda assim, sempre diferentes."
Linda Sue Park

Um sentimento bastante constante entre os educadores é a perplexidade diante de tantas mudanças no sistema educacional brasileiro nas últimas décadas. Uma das mais significativas é a revisão da própria ideia da instituição escolar: um organismo social em permanente busca do equilíbrio entre seu projeto pedagógico e as necessidades da comunidade social próxima e da sociedade mais ampla. Em síntese: uma escola unitária.

As reformas educacionais estão promovendo mudanças especialmente em quatro aspectos: na gestão do sistema e das escolas, na reformulação curricular, na revisão do papel do professor e na implantação da avaliação institucional. Como se vê, essas questões estão intimamente ligadas ao papel dos dirigentes escolares, profissionais importantes para acelerar a implementação das reformas ou para retardá-las.

Reforçar e aperfeiçoar esse processo requer dedicar tempo e recursos na reconstrução do papel dos diretores e coordenadores, educadores encarregados da gestão das escolas. Muitas indagações são constantes: quais são as exigências que estão surgindo? Que novas competências e habilidades estão sendo requeridas para o desempenho dessas funções? Que inovações nas práticas profissionais estão sendo indicadas?

Inúmeras ambiguidades e contradições estão presentes na implantação das reformas educacionais. Apesar disso, entretanto, há um razoável consenso sobre duas diretrizes para nortear a atuação dos gestores escolares. A primeira é liderar movimentos coletivos de mudanças na cultura institucional e a segunda, contribuir para a formação continuada dos educadores da escola (incluindo a própria formação).

Em relação a cultura institucional, o principal aspecto refere-se à implementação da gestão participativa, através da qual o exercício do poder é profundamente modificado. O percurso indica o progressivo abandono da centralização, do autoritarismo e das decisões unilaterais e a cuidadosa ampliação da descentralização, da participação e dos consensos. Diversas experiências de conselhos de escola, de conselhos de classe com a participação de pais e alunos e de cooperação escola-pais indicam que a gestão participativa é um poderoso estímulo para a melhoria da qualidade do ensino oferecido a nossas crianças e jovens. Dos diretores e coordenadores espera-se que exerçam uma liderança eficaz, apoiando, orientando e incentivando a adesão dos participantes da escola a essa estratégica implantação.

Quanto à formação continuada dos educadores, o foco tem sido investir no desenvolvimento e na ampliação das competências de cada profissional - professores, auxiliares, funcionários, dirigentes. Tem sido muito comum, neste particular, o investimento em três níveis:
 Competência para mediar a relação entre os conhecimentos e os alunos. O currículo escolar, além dos conhecimentos acumulados pela humanidade, precisa incluir os problemas contemporâneos, os interesses dos alunos e a cultura já sistematizada por eles em suas experiências de vida.
 Competência para o trabalho pedagógico coletivo. Aqui, o exemplo mais expressivo costuma ser a elaboração do projeto pedagógico, buscando consensos entre os múltiplos e contraditórios interesses presentes na escola.
 Competência para participar da gestão da escola. A ampliação dos conhecimentos e habilidades para decidir-agir-avaliar sobre a estrutra e o funcionamento da escola parece ser uma prioridade fundamental.

4 comentários:

  1. Você abordou questões essenciais que permeiam a educação hoje e, acredite, me parecem tão distantes. De um lado vemos um governo pouco disposto a discussão e que acredita (e aplica!) uma educação baseada apenas na leitura e escrita (digo apenas pelo simples fato de ignorarem as demais áreas do conhecimento e não por estas serem pouco importantes). De outro lado temos gestores aterrorizados pela idéia do participativo, acreditando que a comunidade pode atrapalhar a escola e não o óbvio contrário. De fato é questão de formação...em todos os casos.

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  2. Carlos Luiz Gonçalves18 de outubro de 2011 às 16:52

    É isso mesmo, Roberta, concordamos que a formação dos educadores - em especial, dos gestores - é uma questão essencial para a evolução do nosso sistema educacional. E continuamos nos esforçando para tornar a gestão participativa uma realidade efetiva.
    Grande abraço,

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  3. Recentemente, visitei algumas escolas e entrevistei alguns professores e as situações que estão colocadas no texto se encaixam, perfeitamente, com tudo o que observei nesse percurso.
    Seu texto, mais uma vez muito inspirador, me fez pensar e levantar inúmeras perguntas sobre o tipo de comunicação que acontece dentro do espaço escolar... Se a equipe não compartilha seus problemas, não busca coletivamente saídas para solucionar tais questões... fica difícil promover mudanças que seja eficientes e eficazes. O espaço de ação desaparece e no lugar dele surgem diversas representações: os alunos são preguiçosos, as famílias não se interessam pela escola, a reprovação é necessária para que o aluno aprenda, os professores só reclamam e não fazem nada, os gestores não se interessam... Adorei o texto!!!!

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  4. É, Karina, a substituição de um trabalho (e esforço) coletivo para entender os processos educacionais por representações estereotipadas, como essas que você exemplifica, é um dos maiores entraves que conheço para uma gestão escolar voltada para a melhoria continua da aprendizagem. Nesse ponto, penso que muitas escolas (felizmente não são todas...)não se diferenciam e padecem do mesmo mal. Educadores como você são a esperança de não continuidade dessa marca na cultura institucional de nossas escolas. Vamos continuar lutando por isso. Mais uma vez, obrigado pelo seu comentário, sempre importante e competente.

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