quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Ensino Médio: fusão de disciplinas é o caminho?

No dia 15 passado, o MEC divulgou os dados do IDEB 2011 – Índice de desenvolvimento da educação básica. Um dos pontos mais comentados refere-se ao ensino médio. Os índices deste segmento foram: 2005 - 3,4 / 2007 – 3,5 / 2009 – 3,6 / 2011 – 3,7. A meta estabelecida pelo MEC para 2011 foi atingida, segundo as publicações oficiais.

Entretanto, o crescimento do IDEB do ensino médio foi de 0,3 em três anos! Resultado altamente decepcionante, no entendimento do ministério e de expressiva maioria dos educadores que externaram opiniões nos órgãos de comunicação. A sempre lembrada “crise do ensino médio” ganhou manchetes, editoriais, notícias... ainda que por pouco tempo!

Um dos desdobramentos dessa movimentação foi a proposta, formulada pelo MEC, de fundir disciplinas, pois a quantidade delas seria uma das principais causas da precária situação do ensino médio no Brasil. O currículo passaria a ter quatro áreas de conhecimento – Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas. Algumas vantagens apontadas: diminuir a quantidade de disciplinas para o aluno e possibilitar maior permanência dos professores em uma mesma escola, pois teriam maior carga horária em uma área de conhecimento.

Essa ideia não é nova. Em 1998, já constava das Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino médio (Conselho Nacional de Educação - Parecer 15/1998). É verdade que, nesse documento, eram três as áreas, pois Matemática e Ciências da Natureza foram agrupadas. De qualquer forma, a concepção das áreas de conhecimento já estava posta. E, recentemente, foi mantida pela nova versão dessas diretrizes, aprovada em janeiro deste ano (Conselho Nacional de Educação - Resolução 02/2012).

Este último documento reafirma uma orientação de 1998, quando define: “O currículo deve contemplar as quatro áreas do conhecimento, com tratamento metodológico que evidencie a contextualização e a interdisciplinaridade ou outras formas de interação e articulação entre diferentes campos de saberes específicos.” Ou seja, a organização curricular nas quatro áreas está intimamente associada a dois elementos metodológicos imprescindíveis: contextualização dos conhecimentos e interdisciplinaridade. E sabemos: isso depende fundamentalmente do trabalho coletivo da equipe escolar. E sabemos também: os professores e os gestores das escolas precisam receber apoio, orientação e remuneração compatíveis, para efetivamente se envolverem coletivamente no projeto pedagógico da sua escola.

Em minha opinião, aqui está a questão central: fusão de disciplinas e currículo composto por áreas de conhecimento terão pouca eficácia, se não houver investimentos significativos para viabilizar o trabalho coletivo dos educadores em cada unidade escolar.

A expectativa governamental para 2021 é um índice de 5,2 para o ensino médio. Portanto, um pouco mais da metade do total possível. Em minha opinião, uma meta modesta! Mas nem mesmo ela será atingida, se as medidas corretivas ficarem restritas a mudanças curriculares estruturais, desconsiderando a urgente necessidade de promover também melhorias no funcionamento das escolas e no desempenho dos educadores.

2 comentários:

  1. Carlos Luiz essas reflexões são excelentes, mas nada acontecerá sem o apoio dos professores e das famílias. De nada adiantam caminhões de boas intenções se o indivíduo que está na linha de frente não for convencido de que as propostas são corretas e exequíveis.
    Abraço.

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    1. Olá, Toni, você tem toda razão. Sem a participação de professores e familias, nenhum caminho será completo. Procurei desenvolver em parte essa mesma ideia em meu post "Ensino médio: muita calma nessa hora... Você concorda com o que eu expus nessa publicação?
      Grande abraço.

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