terça-feira, 6 de setembro de 2011

Escolas unitárias

A Folha de São Paulo publicou no dia 03/09 uma reportagem sobre a penetração de grupos de mídia e outras empresas no universo das escolas de educação básica. Antes de qualquer coisa, me chamou a atenção a escolha dos editores: uma matéria para o caderno “Mercado”, usualmente destinado às notícias econômicas, com ênfase no mundo corporativo. Sinal dos tempos!

A proliferação dos chamados “sistemas de ensino” é o principal enfoque da reportagem: essa foi minha segunda constatação. Segunda, mas com forte impacto. Porque registra um movimento muito preocupante para a educação brasileira, segundo penso. Muitas perguntas me invadiram.
Uma primeira: será que a qualidade de ensino oferecida aos alunos terá primazia sobre porcentagens de vendas de material didático, sobre lucro dessas empresas, sobre interesses financeiros de seus acionistas?
Outra: efetivamente, quais são os pressupostos educacionais, políticos, econômicos e culturais que direcionam as propostas pedagógicas dos “sistemas de ensino”? (Digo “efetivamente” porque sabemos que entre o escrito e o realizado sempre há uma distância...)
Ainda uma mais: se manter instituições de educação básica vier a ser um negócio pouco lucrativo, como ficarão essas escolas, seus alunos, seus educadores, as famílias que nelas tiverem confiado a formação de suas crianças e adolescentes?

Não tenho respostas para essas e outras perguntas. Mas tenho muito clara a proposta que defendo: reforçar, ampliar e fortalecer as escolas unitárias. Uma escola unitária tem um projeto pedagógico definido e difundido para toda a comunidade escolar, uma das mais importantes facetas de uma gestão transparente.
Esse projeto pedagógico resulta da intersecção entre
a) os fundamentos educacionais propostos por seus instituidores e educadores e o projeto curricular correspondente;
b) as demandas e necessidades da comunidade social na qual está inserida.
É sobretudo uma escola local que não perde de vista o cenário global. Seus educadores estão em permanente processo de formação para compreender o constante movimento de mudanças que caracteriza a sociedade. No atual contexto, a escola unitária está comprometida com um projeto pedagógico multicultural de inclusão e, por decorrência, com tempo integral. Claro que a implementação de tal projeto demanda recursos e tempo, mas os educadores podem dimensionar os passos que, paulatinamente, tornarão realidade essas ideias.

2 comentários:

  1. Nesta semana estavamos discutindo a ampliação do uso dos chamados "sistemas de ensino" em algumas escolas públicas...Eu não sabia que isso acontecia... mas fato é que, na tentativa de melhorar os resultados observados nas avaliações de larga escala, algumas prefeituras, que possuem uma arrecadação mais robusta, têm adotado tal material...desconsiderando o ponto de partida dos alunos, as condições de trabalho dos professores, o número de alunos por classe... seria a "standartização" do ensino?? A proposta de uma escola unitária seria, ao meu ver, o único caminho para a melhoria do ensino... só não entendo porque isso não acontece?? Será devido à grande rotatividade que acontece nas escolas públicas, que inviabiliza a construção de um trabalho coletivo, a formação de uma equipe??? E nas particulares??? O que falta para que isso se torne realidade??? Perguntas e mais perguntas...

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  2. Carlos Luiz Gonçalves8 de setembro de 2011 às 17:29

    Pois é, Karina, o movimento de Secretarias Municipais de Educação adotando materiais de "sistemas de ensino" é uma realidade. E não só daquelas prefeituras com uma "arrecadação mais robusta", não. Uma realidade, para mim, triste. E, segundo penso, causada por múltiplos fatores. Alguns você já mencionou. Eu acrescentaria pelo menos mais um: gestores dos serviços educacionais públicos que ainda não atentaram para os graves problemas que essa decisão poderá acarretar para as crianças e adolescentes das escolas públicas, a longo prazo. A "standartização" do ensino é um sinônimo da "massificação" e da "uniformização". Você bem sabe a que isso leva, especialmente em paises tão diversificados como o nosso.
    Em minha opinião, escolas unitárias podem ser um antídoto poderoso a esse processo.
    Vamos continuar trocando ideias, sempre muito rico esse diálogo com você.
    Abraços.

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