terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Educação integral: esperanças e receios!

Escolhi um tema particularmente importante e atual - educação integral - para retomar minhas reflexões sobre gestão escolar, depois de algum tempo sem poder publicar textos neste meu blog.

A “chamada” para o assunto me veio a partir de reportagem da Folha de São Paulo no dia 4/1. Começava com o seguinte parágrafo:
“A quantidade de escolas estaduais em período integral quase triplicou neste novo ano em São Paulo. Mas elas ainda representam menos de 4% do total da rede”.
Mais adiante: “... cerca de 50 mil estudantes terão aula o dia inteiro na rede estadual”. E ainda: “A ideia da pasta (estadual) da Educação é chegar a mil escolas em período integral até 2018”.

Na mesma página, fiquei sabendo que o programa Mais Educação do MEC tem a meta de chegar a 60.000 escolas até o final de 2014 com ampliação da jornada escolar diária, total que representa 40% das escolas públicas brasileiras. No ano passado, já foram cerca de 49.000 as escolas que adotaram essa modalidade na educação básica.

As noticias aumentaram ainda mais minha esperança de que a educação integral seja mais ampliada. É uma (atenção: não é a única...) das condições essenciais para a melhoria da qualidade de ensino, ao lado de um currículo multicultural e da efetiva inclusão escolar de todas as crianças e adolescentes. TODAS, sem qualquer exceção.

Natacha G. da Costa publicou excelente texto com o título COMUNIDADES EDUCATIVAS – Por uma educação para o desenvolvimento integral (*).
A autora apresenta as características da educação integral: começa com o aumento do tempo de permanência de alunos e professores na escola – de 4 para 6 ou 8 horas.
Mas isso é insuficiente! É necessário ainda diversificar espaços e projetos curriculares – as aulas e as muitas outras atividades de aprendizagem acontecendo no prédio escolar, mas também nos museus, cinemas, praças, empresas públicas e privadas, ONGs, sindicatos, clubes... E abordando os saberes escolares, mas também os saberes comunitários.
E finalmente uma última (mas não menos importante...) marca: ampliação da participação de alunos, educadores e comunidade escolar por meio da gestão participativa.
Em resumo: uma autêntica comunidade educativa, como prometia o título do artigo.

A autora não mencionou o uso da informática educacional nas atividades presenciais ou virtuais. Hoje precisamos considerar essa como mais uma ferramenta para promover a qualidade do ensino. No entanto, esse é um capítulo à parte que requer muita pesquisa e aprofundamento de ideias.

Mas, as notícias também reforçaram meus receios.
Começando pela frase “... chegar a mil escolas em período integral”, que pode ter o sentido de que tudo se resume a maior permanência de alunos na escola. Em outras palavras, dar mais do mesmo: um currículo arcaico, defasado, fragmentado sendo desenvolvido por mais tempo!

Outro receio: o ritmo da implantação. Mil escolas com educação integral até 2018 em São Paulo e 60.000 no Brasil todo em 2014 são números tímidos demais para um país continental e com uma população de mais de 200 milhões de habitantes, dos quais cerca de 43 milhões residem em São Paulo (IBGE, 29/08/2013, Diário Oficial da União).

E não vale argumentar que os recursos são poucos para tanta demanda. Em minha opinião, pouca é a competência da gestão em muitas instituições públicas e particulares! Mais dinheiro mal administrado não é solução.

(*) Está no livro “Caminhos da Educação Integral no Brasil”, organizado por Jaqueline Moll para a editora Penso, de Porto Alegre e publicado em 2012. Leitura que recomendo vivamente para todos que desejam aprofundar esse assunto!

4 comentários:

  1. Enquanto não percebemos que educação tem a ver com o desenvolvimento humano em todas as suas dimensões, não assumimos a inteireza da condição humana no desenvolvimento de uma cidadania global pluricultural. Saudades das pausas reflexivas com você...

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    1. Grande amiga e mestre Karen, estamos mais uma vez juntos na posição de trabalhar pela construção da cidadania global pluricultural. Fico feliz, pois isso mostra que aprendi suas muitas lições, fui um aluno aplicado! Grande abraço.

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  2. Caro Carlos Luiz,

    Muito bom!!!
    Tenho acompanhado um pouco mais de perto a situação da oferta de vagas para crianças entre 0 e 3 anos, na cidade de São Paulo.... e mais uma vez a má gestão (de décadas) tem deixado milhões de crianças à margem do tão proclamado direito à educação, no que se refere ao seu aspecto mais crucial que é o de acesso a um estabelecimento público...
    Não estamos falando de equidade, qualidade... falamos apenas de acesso... e os números nessa esfera não são tímidos, são vexatórios!!!!
    Tomando a ideia de cidadania, como o efetivo exercício e participação nas diferentes instâncias de decisão, penso que o que vivemos ainda está muito distante!!!!
    Um grande abraço!!!

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    1. É mesmo, Karina, estamos distantes... e gostei muito da troca de adjetivos: vexatório é bem mais realista. O lado bom da tragédia é que continuam existindo pessoas que lutam pela melhoria disso tudo. Fazer parte desse grupo é um grande orgulho. Grande abraço,

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