sábado, 10 de março de 2012

PROFESSORES REVOLTADOS. E COM RAZÃO!

Recentemente, o portal Terra Educação publicou uma nota sobre a divulgação de resultados de avaliação de desempenho de professores pela prefeitura de Nova York. Envolvendo 18 mil professores, cujos nomes e sobrenomes foram expostos pela publicação na imprensa, a decisão causou forte polêmica entre o prefeito e o sindicato de professores.
Argumentos de um lado e de outro mencionam “sistema pouco confiável”, “danos para as escolas”, “transparência na administração pública”, dentre outros. A reportagem informa: “O desempenho dos professores é qualificado de 0 (baixo) a 99 (alto), de acordo com os resultados obtidos pelos estudantes. O ranking vai de 2007 a 2010”.

Eu não conheço em profundidade o sistema de avaliação mencionado na notícia e, portanto, não é possível uma análise ampla e completa. Entretanto, um aspecto me chamou mais a atenção e sobre ele penso que me é permitido fazer uma reflexão: os resultados obtidos pelos alunos seriam a fonte para análise de desempenho dos professores.

Se efetivamente essa é a realidade, estamos diante de mais uma prática de gestão reducionista, simplista e inconseqüente. Por que essa afirmação tão contundente? São vários os motivos. O mais relevante, em minha concepção, é que não se pode considerar que o desempenho profissional dos educadores seja medido exclusivamente pelos resultados de seus alunos. Pela simples e óbvia razão de que inúmeros outros fatores têm peso e importância nesses resultados. Vamos lembrar alguns? A trajetória escolar do aluno; a cultura da família e seu nível sócio-econômico; o estado físico e/ou emocional e/ou cognitivo do aluno no momento de medida de suas aprendizagens; o nível de qualidade dos instrumentos de avaliação... Enfim, esses são alguns poucos exemplos. Em síntese: não nego que o fator “resultados dos alunos” deva ser considerado na análise de desempenho dos professores... Mas, como único critério? É simplificar demais algo tão complexo. Isso, claro, se essa tenha sido a fonte para compor o sistema usado em Nova York.

Aqui no Brasil, por exemplo, as avaliações institucionais promovidas pelo MEC e pelo Conselho Nacional de Educação junto às universidades englobam diversos fatores para definir o nível de cada instituição. Os resultados obtidos pelos alunos no ENADE são incluídos nas análises, mas não unicamente ou isoladamente. Assim também têm procedido os Conselhos Estaduais e Municipais de Educação que conheço, quando se trata de analisar o desempenho de escolas de educação básica.

Há um último agravante na publicação de Nova York. Lá, como cá, está cada vez mais usado o ranqueamento de instituições e de pessoas. No caso em foco, 18 mil educadores foram distribuídos em um ranking “com nome e sobrenome”, segundo a notícia. Lamentável! Essa autêntica “febre” de classificação de elementos totalmente díspares, existentes em contexto completamente diferentes, desconhece a mais simples regra para uma avaliação competente: não comparar situações, pessoas e organizações como se todas fossem iguais.

Ou, para usar o dito popular: “não se pode colocar tudo num mesmo saco”. Todos nós, educadores, sabemos como as condições de trabalho e a cultura institucional de uma escola (para falar de somente dois importantes aspectos) são diferentes de outra, ainda que existam elementos comuns. Mas, certamente, insuficientes para avaliar o desempenho docente como se todas as escolas fossem iguais.
Parece que alguns dirigentes educacionais é que precisam aprender essa importante lição de gestão... E (por que não?) de vida.

5 comentários:

  1. Carlos Luiz, achei o texto sensacional!!! Tenho aprofundado meus estudos sobre os resultados das avaliações, que explicitam inúmeros problemas que precisam ser enfrentados e não se resumem apenas à formação precária dos docentes (que é uma realidade) e nos dão pistas de que não basta oferecer cursos de formação...
    A lógica: baixo desempenho do aluno = cursos de formação para os professores, não tem se mostrado eficiente...
    Que tal elaborar e coordenar alguns encontros para discutir "O que podemos aprender com os resultados das avaliações em larga escala?", a partir da análise das causas ( a busca dos por quês?) que discutimos nos módulos de gestão? Seria ótimo!!!

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    1. Carlos Luiz Gonçalves28 de março de 2012 às 17:22

      Karina, uma excelente ideia. Vou mesmo pensar no assunto, pois as avaliações externas às nossas escolas podem nos ensinar muito. No entanto, estão sendo usadas quase sempre para produzir classificações pouco eficazes para a melhoria da qualidade educacional no país.
      Mais uma vez, obrigado por suas contribuições.
      Carlos Luiz

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  2. Carlos Luiz, é isso mesmo! As classificações não têm ajudado no enfrentamento, ao contrário, complicam ainda mais o panorama. É preciso refletir sobre alguns mitos que se criaram em torno das avaliações em larga escala, como por exemplo: o de que as avaliações externas substituem as avaliações processuais ou, então, de que avaliar é o mesmo que medir - a medida é parte dela, mas não o seu fim.
    É preciso ter clareza de que a avaliação, em si, não é boa ou má, não melhora e nem piora a qualidade do ensino. Mas o que se faz com os resultados dela, pode sim, piorar ou melhorar a qualidade. Avaliar implica em tomar decisões e é sobre esse percurso(avaliação e tomada de decisões) que você poderia nos ajudar a refletir!!

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    1. É mesmo verdade, Karina, essa sua indicação: avaliações externas não substituem as avaliações processuais, que precisam ser realizadas pelas escolas. Mas, sabemos que os gestores escolares - tanto os de sistemas como os de unidades - enfrentam enormes dificuldades para promover essas importantes ações. Nós poderíamos organizar um debate sobre isso e oferecer sugestões para tornar viável uma prática avaliativa eficiente e eficaz, sempre visando a melhoria da qualidade de ensino oferecido para nossas crianças, adolescentes e adultos. Vamos pensar juntos sobre isso?
      Grande abraço.

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  3. Carlos Luiz, gostei muito dessa ideia! Vamos pensar sobre isso sim!!
    Um grande abraço.

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