quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Polêmica inútil e desastrosa.

Infelizmente, a data de corte para ingresso no ensino fundamental aos seis anos transformou-se em um conflito desnecessário e prejudicial. Resumidamente, vamos aos fatos:
1. Em 2006, o Congresso Nacional aprovou lei ampliando a duração do ensino fundamental para nove anos e matrícula obrigatória aos seis anos, fixando prazo de implantação até 2010.
2. Em 2008, o Conselho Estadual de Educação de São Paulo estabeleceu o dia 30 de junho como data de corte para essa matrícula nas escolas estaduais e particulares, autorizando ajustes para os anos de 2009 e 2010.
3. Em 2010, o Conselho Nacional de Educação indicou para os conselhos estaduais e municipais o dia 30 de março como data de corte, permitindo que, excepcionalmente em 2010 e 2011, essa norma não fosse observada se a criança tivesse frequentado dois anos de educação infantil. A mesma data de corte foi indicada para matrícula aos quatro anos de idade na classe inicial da pré-escola.
Durante os últimos quatro anos, inúmeros recursos de autoridades educacionais e pais tramitaram nos conselhos e na justiça, questionando essas normas; em muitos deles, os juízes concederam liminar para permitir a matrícula das crianças sem respeitar a data de corte. Atualmente, há ações do ministério público federal para tornar sem efeito essas deliberações do conselho nacional.
É claro que todo esse tumulto está causando muitas incertezas para escolas e pais. Mas, as mais prejudicadas são as crianças, quando deveriam ser consideradas acima de qualquer outra questão. É por isso que a polêmica é desastrosa.

Reconheço: é louvável que os conselhos de educação queiram proteger os alunos de decisões de pais e/ou escolas, antecipando a matrícula no 1º ano do ensino fundamental. Também penso que crianças com cinco anos de idade terão sérios prejuízos em seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social se a escolarização for antecipada, salvo uma ou outra exceção. Há muitas pesquisas mostrando que apressar etapas de crescimento é uma prática pouco saudável ao longo da vida.
Mas, por que estabelecer como critério de matrícula unicamente uma data? Que diferença significativa haverá entre uma criança nascida nesse dia e outra, no dia seguinte? Aliás, essa é a argumentação básica da maioria dos recursos impetrados nos conselhos e na justiça.

Não quero ficar somente na crítica. Sugiro encaminhamento usado em algumas escolas nas quais trabalhei: estabelecer uma data limite (30 de junho parece ser a mais indicada para organizar turmas equilibradas quanto a esse quesito), mas permitir que a matrícula de crianças nascidas nos dois meses seguintes seja uma decisão conjunta da escola e da família (podendo haver até a indicação de alguns critérios para essa decisão, por parte dos conselhos de educação). As crianças nascidas a partir de setembro permaneceriam obrigatoriamente na educação infantil.
Minhas experiências com esse encaminhamento mostram que foram raros os casos de conflito entre a posição da escola e das famílias e geralmente as crianças foram poupadas de desgastes inúteis.

4 comentários:

  1. Ultimamente temos vistos polêmicas desastrosas como esta acontecendo. As escolas precisam muito mais do que uma data limite de matrícula. Principalmente as públicas, precisam de ações efetivas de qualidade de ensino para atender essa crianças. O que sinto é que o ensino de 9 anos não preparou pais e escolas para atuarem nesse contexto. Aredito que a solução seria mesmo essa proposta de decisão conjunta. E vamos começar a pensar nas necessidades específicas das crianças ingressantes no 1o ano.... o que, de fato, interessa!

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  2. Prezada Roberta,
    "Pensar nas necessidades específicas das crianças ingressantes no 1º ano" é mesmo a principal prioridade, concordo inteiramente com você. A inovação do ensino fundamental com 9 anos de duração foi uma conquista importante, mas não houve continuidade nas medidas para apoiar escolas, pais e, principalmente, alunos de forma a tornar efetiva essa conquista. Uma pena!
    Obrigado pelo seu comentário. Como sempre, muito oportuno.
    Grande abraço.

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  3. Caríssimo professor,

    Já li e gostei muito das suas observações, pois, normalmente, nessas disputas os últimos a serem lembrados são os alunos... o que é uma pena...
    A legislação poderia mesmo ser um pouco mais flexível, atendendo às necessidades que se colocam e uma boa conversa entre a escola e família daria conta de fazer os ajustes necessários, visando atender a criança em sua individualidade...
    Digo e repito: Ainda bem que temos você trazendo luz à essas questões!!!
    Muito obrigada sempre,
    Karina Biasoli

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  4. É, Karina, você lembra um aspecto por demais importante: nas decisões e ações dos gestores (em qualquer nível do sistema educacional) a primeira lembrança sempre deve ser a criança, o jovem e os adultos que confiam sua formação aos educadores das nossas escolas. E, infelizmente, nem sempre é isso que acontece.
    Obrigado por seu comentário e um abraço.

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