terça-feira, 9 de agosto de 2011

O atirador de Oslo: o poder das convicções

“Uma pessoa com convicção tem a força equivalente a 100 mil que tenham interesses apenas.”

Anders Behring Breivik, o atirador de Oslo, é o autor da frase. Uma ideia avassaladora, especialmente para as mais de setenta pessoas mortas nos dois atentados e seus familiares, amigos e conterrâneos.
Mas, ao mesmo tempo, uma ideia fundamental para quem escolheu as muitas profissões de educar. Como são formadas as convicções? Como crianças e jovens podem ser orientados para escolhê-las? Ou será que nós - pais, professores, coordenadores, orientadores, diretores - não temos possibilidades de influir nas opções deles?
Eu acredito profundamente que podemos contribuir decisivamente para a formação das convicções em nossas crianças e jovens. Aliás, acho até que essa é uma das principais missões dos educadores, seja na família, seja na escola básica. E adoto esse ponto de vista porque sei quando e como a maior parte das convicções é construída pelo ser humano. Essa minha posição decorre das experiências vividas na companhia de meus dois filhos, três netos e tantos alunos com quem tenho convivido há quase cinqüenta anos e das contribuições dos diversos autores que estudei.
Resumidamente: desde muito cedo, vão sendo lançados os fundamentos de grande parcela das convicções assumidas por nós, na vida adulta. Isso torna as ações, as palavras e, especialmente, os exemplos dos educadores uma fonte extremamente importante para as crianças e jovens. É na convivência quotidiana com seus pais, seus professores e seus dirigentes escolares que eles podem vivenciar situações concretas de construção de suas convicções.
É certo que a sociedade mais ampla – os meios de comunicação, a igreja, a política, a economia, para citar alguns exemplos – também exercem poderosa influência nessa construção. É certo ainda que os caminhos percorridos ao longo da vida podem confirmar ou modificar convicções. Mas, é inegável que a família e a escola básica têm marcas profundas nesse processo.
Dirijo-me particularmente aos professores e dirigentes das nossas escolas de educação infantil, ensino fundamental e médio para reforçar o que costumeiramente tenho defendido em meus escritos e em minha atuação de gestor escolar: temos que aproveitar todas as oportunidades para incentivar nossas crianças e jovens para assumirem ideias e posturas de respeito às diversidades, de aceitação de culturas desenvolvidas por outros seres humanos e de privilegiar o coletivo e o bem comum. Não é por acaso que o atirador de Oslo despreza o multiculturalismo, as sociedades pluralistas e a democracia, conforme ele mesmo confessa nos manifestos postados na internet.
Precisamos criar e desenvolver projetos pedagógicos e curriculares que concorram poderosamente para a formação de convicções condizentes com uma civilização pacífica, tolerante e sustentável. As proposições de escola inclusiva e educação multicultural podem ser instrumentos eficientes para esse empreendimento cidadão.
Mas, acima de tudo, precisamos nos comprometer com essa missão por meio de exemplos, mais do que por palavras e discursos. As inúmeras ocorrências e acontecimentos em um só dia de uma escola – nós sabemos bem – propiciam oportunidades preciosas para oferecer aos nossos alunos essas vivências. O que se poderá conquistar nos 15 ou 16 anos durante os quais eles podem permanecer conosco na escola básica! (Digo “podem”, porque, infelizmente, são muitos aqueles a quem é negado esse direito fundamental de cidadania...)
Carlos Luiz Gonçalves, em julho de 2011.

6 comentários:

  1. Parabéns pelo novo blog, professor! Temos muito o que aprender com vc. Obrigada por compartilhar suas ideias.

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  2. Adorei o artigo!!! Penso que a escola seja mesmo um local privilegiado para a formação de convicções condizentes com uma civilização mais pacífica e sustentável. Contudo precisamos rever, profundamente, as estruturas que sustentam os atuais modelos educacionais, uma vez que o princípio da "igualdade" (por mais bem intencionado que possa nos parecer) ignora o que é diferente: "Escola para todos". Mas qual tipo de escola? Para qual aluno?. Precisamos centrar nossas discussões a partir do princípio da "equidade", de modo que possamos, verdadeiramente, atender às necessidades de cada criança e jovem; assegurando-lhes condições reais de aprendizagem e crescimento.

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  3. Gostei muito do texto.Como educadores precisamos demonstrar nossas convicções.
    Um abraço,

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  4. Pai, muito bom o texto, recomendei no face e também para meus alunos na universidade. Fico orgulhoso. Beijos

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  5. Oi, André, obrigado pelo seu comentário. Depois você me conta quais foram os comentários dos seus alunos. Um abraço, seu pai.

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